Reflexões sobre "Um Lugar ao Sol"
O documentário de Mascaro abre possibilidades de análise por vários vieses.
Causam, inicialmente, uma certa repulsa as declarações daqueles que recebem todo o aval para se expressar no documentário: um grupo seleto de pessoas abastadas que são proprietárias de coberturas em algumas das capitais brasileiras. É interessante notar, neste ponto, que somente nove dos cento e poucos proprietários de cobertura se dispuseram a falar; abrindo margem a interpretação de que, talvez, façam parte de um grupo de "novos ricos" para os quais ostentar esta riqueza seja item prioritário. Esse enfoque em nove pessoas/famílias tende a encaminhar o público a dois caminhos de análise: primeiro, a repulsa ou simpatia é direcionada especificamente à estas pessoas; segundo, a tendência é tomar essa limitada amostra como regra geral. Isso incorre em, por um lado, ignorar a "big picture" de toda a questão e, por outro, ignorar que entre a alta classe existe uma grande diversidade de opiniões e posicionamentos - não sendo todos rasos e preconceituosos como os retratados.
Um dos entrevistados demonstra ter noção do processo que leva as coberturas a serem o que são: frente ao desejo generalizado de morar nas cidades e a intensa disputa pelo solo urbano, a valorização ocorre não só na horizontalidade como na verticalidade destas. Afastamento dos ruídos urbanos; segurança; privacidade; vista privilegiada e melhor iluminação são alguns dos pontos concretos do encarecimento das unidades. Mas é, no fundo, o poder simbólico delas que as diferencia - a sensação de estar no topo; o mérito; a suposta dignidade perante os demais.
Por outro lado, aquela repulsa inicial merece ser acompanhada de uma autocrítica. Não estamos nós, em nosso cotidiano, procurando nos diferenciar dos demais e, dentro de nossas possibilidades, limitar o contato com aqueles que consideramos inconvenientes? Nos incluirmos e diluirmos numa suposta classe econômica inferior homogênea é inocência descabida. Há uma enorme hierarquia de poderes e cada um, dentro de sua esfera de influência, a exerce. O tensionamento está no quão amplo é o poder daqueles retratados que, ao exercê-lo, impactam não só sua esfera imediata mas toda uma conjuntura social. A perversidade ou a positividade desses impactos estão diretamente vinculados à consciência desse poder e à empatia (ou não) de cada indivíduo.
Causam, inicialmente, uma certa repulsa as declarações daqueles que recebem todo o aval para se expressar no documentário: um grupo seleto de pessoas abastadas que são proprietárias de coberturas em algumas das capitais brasileiras. É interessante notar, neste ponto, que somente nove dos cento e poucos proprietários de cobertura se dispuseram a falar; abrindo margem a interpretação de que, talvez, façam parte de um grupo de "novos ricos" para os quais ostentar esta riqueza seja item prioritário. Esse enfoque em nove pessoas/famílias tende a encaminhar o público a dois caminhos de análise: primeiro, a repulsa ou simpatia é direcionada especificamente à estas pessoas; segundo, a tendência é tomar essa limitada amostra como regra geral. Isso incorre em, por um lado, ignorar a "big picture" de toda a questão e, por outro, ignorar que entre a alta classe existe uma grande diversidade de opiniões e posicionamentos - não sendo todos rasos e preconceituosos como os retratados.
Um dos entrevistados demonstra ter noção do processo que leva as coberturas a serem o que são: frente ao desejo generalizado de morar nas cidades e a intensa disputa pelo solo urbano, a valorização ocorre não só na horizontalidade como na verticalidade destas. Afastamento dos ruídos urbanos; segurança; privacidade; vista privilegiada e melhor iluminação são alguns dos pontos concretos do encarecimento das unidades. Mas é, no fundo, o poder simbólico delas que as diferencia - a sensação de estar no topo; o mérito; a suposta dignidade perante os demais.
Por outro lado, aquela repulsa inicial merece ser acompanhada de uma autocrítica. Não estamos nós, em nosso cotidiano, procurando nos diferenciar dos demais e, dentro de nossas possibilidades, limitar o contato com aqueles que consideramos inconvenientes? Nos incluirmos e diluirmos numa suposta classe econômica inferior homogênea é inocência descabida. Há uma enorme hierarquia de poderes e cada um, dentro de sua esfera de influência, a exerce. O tensionamento está no quão amplo é o poder daqueles retratados que, ao exercê-lo, impactam não só sua esfera imediata mas toda uma conjuntura social. A perversidade ou a positividade desses impactos estão diretamente vinculados à consciência desse poder e à empatia (ou não) de cada indivíduo.
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